5.1.11

Por vezes sentes-te completamente cheio, até acima, sentes que não consegues suportar mais nada. Estás a começar a ficar com tremores, a andar de um lado para o outro, sentes a cabeça a latejar. É possível que sejas um vulcão a entrar em erupção? Que disparate. Mas é o que sentes. Sentes que só essa enorme explosão vai aliviar toda a magma que tens dentro de ti a borbulhar e só aí conseguirás diminuir a pressão que está a exercer dentro de ti. Sentes que se não rebentares vais colapsar para dentro. Vais dar contigo presa a algo de que não te consegues livrar. Precisas mesmo de eliminar essa tensão. É nesses momentos que recorres ao que melhor te consegue acalmar. Sentes uma sede insaciável de escrever ou de falar com alguém, escrever não é mais que falar para o papel, de bater com a cabeça nas paredes, de gritar, de chorar. As lágrimas vão caindo uma a uma naquela folha de papel branca e vão-na manchando e esborratando as mil palavras que já escreveste. E escreves, e escreves, e escreves. Já nem pensas no que passas para o papel, a caneta lê-te os pensamentos e tu apenas mexes a mão. Começas a pensar onde foste buscar tantas palavras pois naquele dia em que na aula de português te pediram para chegar às duzentas tu bloqueaste completamente e não surgia nada. Onde estavam elas escondidas nessa altura? Não estavam lá. Elas foram acumulando-se ao longo do tempo e agora lá vão elas. Uma a uma, saem da tua cabeça, enchem agora as folhas de um velho caderno que está guardado especificamente para as crises. E vais ficando mais leve, mais calmo. As lágrimas começam a cessar. Já te doi a mão, já chega de tanto escrever. Por agora sentes-te mais vazio. Passou aquela sensação de prisioneiro dos teus próprios sentimentos. O teu cérebro está livre. Pronto a aguentar com tudo o resto que te vá atormentar de novo. Afinal ainda aguentas mais alguma coisa. Tens que aguentar. Não há outra forma.

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