8.2.10

Sentada no jardim dei por mim a observar uma criança. Não foi premeditado. Apenas fixei nela o meu olhar e a partir daí desenvolvi uma complexa rede de pensamento. Aquela menina de cabelos louros com um bonito vestido branco brincava na areia sem se importar se a cor do vestido estava a mudar ou não. Apontava para os pássaros que cantanvam e ria. Depois, de pé e com os braços abertos, fazia que voava. E com um sorriso de orelha a orelha chamava pela mãe e pedia-lhe que viesse brincar também. Ela simplesmente lhe sorria, ficava sentada no mesmo banco em que estava provavelmente desde que ali tinha chegado. E quando a menina se chegou ao pé dela e lhe pegou na mão, a mãe, sempre com um sorriso talvez até um pouco forçado, afastou-a e permaneceu sentada. Esta é a grande diferença entre crianças e adultos, a diferença entre viver a vida e complicar. À medida que crescemos temos tendência a dificultar as coisas à nossa volta. Quando somos crianças vivemos no mundo do imaginário. Cada pessoa que passa na rua é um potencial amigo, seja ele da cor que for, tenha a idade que tiver, venha de onde vier. Passados uns meros anos, começamos a catalogar as pessoas e o mundo, julgamos alguém apenas pela aparência e é com esta que nos preocupamos mais. Enquanto aquela menina não se importava com o vestido manchado, a mãe recusou-se a levantar do banco e a ir brincar. Mas que grande erro, deixar de brincar! É tão bom, tão reconfortante. Liberta-nos e deixa-nos fluir o pensamento. Brincar é dos melhores exercicios que podemos fazer ao nosso cérebro. No entanto, esquecemo-nos de o fazer. Tornamo-nos chatos, selectivos e rabugentos. Ficamos sem paciência. Quebramos a infância pela qual passámos e que nos fez tão felizes. Porque é que temos mesmo que complicar?

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