24.1.11

Entras em casa, tomas um banho de água quente, vestes um pijama, acendes a lareira e aconchegas-te no sofá. É uma óptima rotina. A rotina de muitos de nós, talvez. E para ti é algo perfeitamente natural pois sempre pudeste fazer isso. Porque não continuar a fazê-lo se te faz sentir bem? Entretanto ligas a televisão. Escândalos daqui, escândalos dali, hoje em dia aproveitam tudo e mais alguma coisa para notícia desde que cative a atenção das pessoas, desde que as faça manter os olhos colados ao pequeno ecrã. E então os teus ouvidos despertam quando a apresentadora refere o número médio de sem-abrigos que se encontram actualmente nas ruas das cidades de Lisboa e do Porto. Eles não têm água para tomar um banho quente, não têm sequer um pijama, as suas roupas são simples farrapos encontrados aqui ou ali ou doados por alguma espécie de instituição de caridade. E, muito obviamente, não têm uma lareira onde se possam aquecer. Humildes, sem grandes esperanças que as suas vidas melhorem, vagueiam de banco em banco de jardim, de caixote em caixote, apenas com a pouca roupa que trazem vestida e, quem sabe, uma manta velha achada perto de um contentor do lixo. Pensas na última noite. Em como dormiste no meio de lençóis de flanela e cobertores e te queixaste do facto de teres acordado com os pés frios. Pensas na última noite. Nas temperaturas negativas que se fizeram sentir em quase todo o país e na forma como estas pessoas enfrentam o frio diariamente. Pensas neles. Pobres, sujos, gelados, lutando por um pedaço de pão a cada dia. Lutando para sobreviver. Entretanto levantas-te, jantas e voltas para o sofá. Desta vez para ver um filme que está começar num outro canal qualquer. E esqueces aquilo em que pensaste há tão pouco tempo. Esqueçes os vagabundos que se dispõem à volta de uma fogueira improvisada para conseguir um pouco de calor, físico e humano. É verdade que sozinho não podes fazer nada. Mas imagina que somos todos assim. Que as realidades nos chocam ao ouvir falar delas, mas que se esquecem facilmente já que não é nada directamente relacionado connosco. Há coisas que podemos mudar, juntos. Apenas se não as esquecermos. Apenas se quisermos.

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